2 de agosto de 2010

O que me causa medo.

É frequente dizermos que parkour é uma forma de deslocamento útil, na qual usamos nosso corpo dentro de um determinado percurso, para nos deslocar de forma rápida, fluente e eficaz.
Sendo assim, o parkour acaba muitas vezes se resumindo a conceitos como "ser útil" e "ser eficaz", o que de certa forma não esta errado.

Mas não é sobre isto que quero falar neste texto. Pretendo apenas relembrar aos tracers algumas palavras que levam certos conceitos, que nos dias de hoje, parecem terem sido esquecidos. Palavras como "preservação" e "economia", tão pouco empregadas pela comunidade de praticantes, podem, em uma situação real, definir vidas.

A preservação, da vida, é um dos aspectos mais importantes no parkour. Tanto quando utilizamos o parkour para pegar um simples chave, quanto para salvar uma vida em risco. O que acontece é que raramente vejo alguém mencionar que o parkour busca a preservação da vida, o que sempre escuto é algo como "não causar danos físicos a curto e a longo prazo" mencionado sempre no meio de uma explicação banal de "o que é parkour?".

Devemos preservar nosso corpo, seja evitando o desgaste desnecessário nos treinamentos (entenda ai big jumps desnecessários..), como a preservação do nosso corpo antes mesmo do corpo do próximo. Sim meu amigo, pense na sua vida antes de bancar o herói e utilizar o seu parkour "útil" para salvar outra vida. Isto é um preceito básico de qualquer serviço de emergência, quer exemplos?

O guarda de transito, ao avistar um acidente de transito com vitimas primeiramente garante a sua segurança no local, depois avalia a situação.

O enfermeiro do samu, só atende a vitima deste mesmo acidente de transito depois de o guarda de transito ter garantido a segurança para o enfermeiro agir.

O policial, só atende uma emergência se tiver preparo e condições que garantam sua vida antes.

O bombeiro, só invade um prédio em chamas para salvar uma pessoa se antes estiver equipado e preparado de forma que tenha algum suporte que garanta a sua vida no local.

A partir do momento que você decide agir em uma emergência e salvar alguém sem antes pensar na sua propria integridade, você estará arriscando. Avaliar os riscos rapidamente e agir corretamente é o que fazem os chamados "heróis".
Como na maioria das situações é impossível/perigoso calcular rapidamente o risco ao qual você estará colocando sua vida para salvar uma outra, recomenda-se preservar sua vida antes de tudo. É fundamental lembrar que em determinadas situações agir rapidamente não significa agir corretamente.

A historia do parkour se encontra com a do método natural, que visa entre outras coisas a preservação da vida, e dos bombeiros que também prezam a vida. Então porque tanto se fala em utilitarismo e tão pouco em preservação?
Tenho medo ao imaginar um tracer escalando um prédio em chamas para salvar uma criança,  sem antes ter telefonado para os bombeiros irem ao local.
Tenho muito medo, até porque hoje em dia os tracers estão precisando tanto mostrar que seu parkour é "útil" que se esquecem de princípios mais que fundamentais. Em muitos casos útil mesmo é pegar o telefone e ligar para a emergência, ao invés de escalar um prédio. Mas isso já é outro caso, tem haver mais com a necessidade que muitos tem de se tornar heróis, que já é outra historia e não quero me prolongar nisto.

Outro ponto importante, é a economia dentro do parkour. Usamos palavras como eficiência para deixar a entender economia de movimentos e economia de esforço. O que também não esta errado, o que não compreendo é o porque de não evidenciar nos treinos: "seja economico! se precisar desvie dos obstáculos, nem sempre o caminho eficiente será transpor o obstáculo."

O que frequentemente acontece, e me envergonho de já ter feito, é o iniciante ir no treino para aprender parkour e o cidadão que se julga experiente dizer: "bom, parkour é transpor obstaculos e há vários movimentos para isto, vou lhe ensinar a base dos mais usados".
Isso hoje também me da medo, ta eu sou cagalhão hahaha, imagine esse iniciante saindo do treino e em uma situação real, onde desviar dos obstáculos seja o mais eficiente e seguro, ele decide transpor um obstáculo desnecessariamente porque aprendeu lá naquele tal "treino de parkour".

Pode parecer algo impossível de acontecer, se o cara precisar correr ele vai correr, não é? Claro que não, o cidadão foi no treino e "aprendeu" parkour, nas mídias dizem que parkour é pular o muro. Então porque ele iria correr em vez de subir o muro e utilizar o que "aprendeu"? Alguém ensina a correr em treinos de parkour? Eu pessoalmente conheço poucos casos de pessoas que ensinam os iniciantes a correr, deixando entender a real e eventual utilidade da corrida. O máximo que se diz é que correr faz bem, e olha lá...

O que acontece hoje no parkour é a banalização dos termos, deixamos a entender muita coisa, não pegamos o iniciante ou o já praticante e dizemos: "eficiência é isso", "utilidade é aquilo", "depende, avalie a situação".
Deixamos de evidenciar coisas importantes por acharmos que ja esta tudo entendido, quando na verdade não esta. Para mim, nos treinos, pelo menos aqui em Blumenau, falta mais conversa e exercício da mente do que exercício físico. Mas como estas coisas não se enfia goela a baixo, cada um busca o saber da sua forma.

Mas infelizmente, e isso não é só aqui em Blumenau, exercitar o físico parece ser a unica prioridade, pelo menos pra massa que faz um vídeo por semana. E o que por fim me causa uma enorme preocupação, é ver uma pessoa despreparada que sempre exercitou somente o corpo físico, fazendo uso de seus movimentos para conseguir ouvidos que escutaram atentamente as asneiras ditas pelos seus músculos eficazes.
É, eu devo ser um cagalhão mesmo...



-LeandroLudwig.

Um comentário:

Le Parkour Blumenau - Jean (chinta) disse...

primeiro

vc é um cagalhão

segundo

tbm sou

terceiro

muito bom esse texto e concordo plena-mente com ele, vc sabe neh rapa

quarto

fica no flow mano