Quando nascemos somos batizados com um nome que não escolhemos, por obrigação amamos uma determinada religião e sem saber o porque,
crescemos estudando coisas que jamais iremos usar em nossas vidas.
Aprendemos a rezar e a odecer os mais velhos, mesmo quando estamos certos
e eles errados. Nos ensinam que nunca devemos roubar e jamais devemos
prejudicar o próximo. Porem, crescemos vendo padres estrupadores, pais
adúlteros e politicos corruptos.
Dizem que bom mesmo era a geração
anos 70, que ia para as ruas protestar e expressavam suas ideias sem
medo.
A juventude de hoje é a podridão do mundo, somos nós os
responsáveis pelo acumulo de CO2 na atmosfera e somos nós quem rezamos e
incentivamos padres pedófilos que não querem nada a não ser nosso
dinheiro na cestinha do altar, somos nós não é meu velho?
O mundo ta
perdido, e os culpados, os culpados somos nós? Perai, nós somos culpados de
em toda nossas vidas tentarmos concertar um erro cometido no passado? De
irmos a uma festa em um sábado a noite, em vez de ficarmos em casa
assistindo o jornal mostrar os crimes cometidos por causa de uma herança
podre que recebemos de nossos pais? Vamos respeitar os mais velhos sim, mas diferente deles vamos cuidar do planeta, vamos estudar,
vamos viver corretamente e principalmente vamos amar! Vamos curtir cada segundo respirado, mas de forma correta, para que por fim, quando todos os erros do passados forem concertados, nós "jovens de hoje em dia", possamos com a consciência limpa e a cabeça erguida afirmar: foram vocês meus velhos, foram vocês!
29 de junho de 2010
8 de junho de 2010
Sobre-vida na cidade. 2
Conseguimos com muito sucesso realizar neste sábado e domingo o treino de "sobre-vida na cidade", participaram da experiência: Eu, Timóteo, Jean, Tiago e Jack. O evento ocorreu de uma forma diferente da inicialmente planejada, na alimentação gastamos apenas 5 reais cada um ao invés dos 10 programados para todo o final de semana. (a idéia era não ter luxo, sentimos que 10reais nos daria um certo luxo e por isto durante a experiência traçamos a meta de 5reais por pessoa.)
Começamos a experiência as 8 horas da manhã no parque Ramiro Rudger, todos já devidamente caracterizados de moradores de rua. Já no local percebemos as constantes "olhadas" que as pessoas nos davam, como se nós não poderíamos estar naquele local daquela forma.
8hrs da manhã, parque Ramiro Rudger. Da esquerda para direita: Tiago, Timóteo, Jack, Jean e Leandro.
Saímos do parque Ramiro e caminhamos até a praça dos estudantes, lá nós deitamos no chão, tocamos violão e nos divertimos um pouco (cantando musica e treinando parkour). Logo após, deveria ser 11hrs, não sei precisamente porque ninguém tinha relógio, fomos até o mercado angeloni comprar algo para comer.
(algo = banana e tangerina..haha)
No mercado, foram varias as reações das pessoas ao nos ver: umas olhavam de canto de olho fingindo não nos ver, outras olhavam descaradamente para nós e teve até as que nem perceberam nossa presença. Entretanto, foram duas as reações sofridas e comentadas por nós que mais chamaram nossa atenção. A primeira situação ocorreu no mercado, uma moça foi pedir informação ao nosso amigo Tiago, olhando nos seus olhos, sem dar a mínima importância para suas roupas, após tantos pré conceitos foi fantástico e quase inacreditável. Também no mercado, ocorreu a segunda reação, totalmente oposta a primeira, uma senhora parou o carrinho quando nos viu e olhou indignada para nós, olhando desde nossos pés descalços até nossos cabelos revirados, o mais incrível foi ver que ela não teve medo de expressar o que ela pensava sobre a situação como a maioria das pessoas fazia. Ela parou o que fazia para nos olhar, foram duas situações igualmente incríveis.
sábado de manhã, acho que era 11hrs..
Enfim, chegando no angeloni, compramos bananas e tangerinas para comer no "almoço". Comemos no meio da rua, em um espaço pequeno de grama, aproveitamos e dormimos um pouco ali mesmo. Não deu muito tempo, tivemos que ir em um local mais reservado, pois muitos carros buzinavam ou berravam impossibilitando nosso sono no local. Nos dirigimos então para a Praça do Chinta, onde longe da visão das pessoas conseguimos descansar um pouco.
Praça do chinta. Na foto: Jack, Tiago e Jean.
Quando acordamos já era de tarde e seguimos andando até a rodoviária, lá tive que comprar um remédio para dor de cabeça (2reais), dor que provavelmente surgiu por treinar e caminhar pela manhã de barriga vazia (eu nunca tinha feito isso e meu organismo reagiu mal a situação). Saímos da rodoviária e andamos em direção a praça do Biergarden, todos com os olhos sempre atentos nos lixos, a procura de papelão para dormir em cima quando a noite chegasse. Encontramos muito papelão na rua 15 de Novembro, rua mais movimentada da cidade, pois passamos pelo local bem na hora em que as lojas estavam colocando os lixos e as caixas vazias na rua.
No momento em que estávamos procurando papelão para levar ao local onde iríamos dormir, uma lojista saiu de uma das lojas e me perguntou gentilmente com um olhar humilde e caridoso se eu queria mais papelão, eu surpreso/perplexo/assustado com a pergunta feita e pelo modo com que a lojista me olhou, prontamente agradeci a gentileza mas neguei, justificando já ter o suficiente para dormir.
(naquele momento, acho que todos nós nos sentimos moradores de rua de verdade...pois a situação nos forçou a entrar a fundo no "papel" de morador de rua e consequentemente ser tratado como tal)
Chegando na praça do biergarden, jogamos todo o papelão recolhido para dentro do edifício abandonado, que fica ao lado do Biergarden, edifício escolhido por nós para passar a noite. Após deixar o papelão no local onde iríamos dormir, decidimos ir ao mercado para comprar o que iríamos jantar. Compramos varias bananas, 98centavos o kilo na promoção, um miojo para cada um e dois pacotes de bolachas de coco. Comemos do lado de fora do supermecado, conversamos um pouco sobre como estávamos nos saindo e sobre os principais acontecimentos do dia.
Após comer e conversar um pouco nos dirigimos até a praça dos pombos, onde decidimos treinar um pouco, já estava escuro e o frio juntamente com o cansaço por caminhar o dia inteiro fez brotar em nós uma preguiça das brabas. Mas felizmente conseguimos supera-la após realizarmos uns alongamentos e aquecimentos caprichados (hahaha). Treinamos aproximadamente 1 hora no local, depois do show de gaita e violão proporcionado por nossos amigos Tiago e Timóteo decidimos ir arrumar o canto onde iríamos dormir no prédio.
Deveria ser 23hrs de sábado..
Subimos até o ultimo andar do prédio e apreciamos a vista única e deslumbrante da cidade, oferecida por aquele velho e sombrio edifício. Arrumamos os papelões no penúltimo andar e nos deitamos para dormir, o combinado era conversamos um pouco antes de dormir mas o cansaço fez com que todos ficassem em silencio e tentassem dormir.
Porem, não contávamos com a festa que estava acontecendo na choperia expresso, que fica exatamente ao lado do edifício. O barulho da festa atrapalhava muito o sono e quando estávamos quase dormindo, fomos surpreendidos por dois "moleques" que saíram da festa para subir o prédio. (não sei por que...acho que para ver a vista lá de cima, não sei...)
Quando eu os vi, me levantei e fiz com que me vissem, foi o suficiente para fazer com que eles se assustassem e fugissem correndo. Nos levantamos e pudemos observar os mesmos "moleques" contando o que viram aos amigos, dizendo pra eles não subirem que tinha mendigo no prédio e bla bla bla. Enfim, passados 15minutos aproximadamente, um grupo de 10 meninos subiu o prédio para fazer bagunça, foi quando meu instinto de morador de rua falou mais alto (hahahaha), sem pensar revirei o que tinha próximo e berrei para eles saírem, falei alguns palavrões com a voz grossa e exclamei que a festa era do lado e não ali no prédio. Por se tratar de "molecada" eles pediram desculpas e desceram com medo (falaram exatamente assim: "não cara, de boa, tamo saindo..de boa de boa"), as pessoas tem medo dos mendigos por estes serem imprevisiveis e não terem nada a perder, eu na hora sabia disto e usei instintivamente na situação para nos proteger de maiores complicações.
A noite foi muito fria e por estarmos no penúltimo andar, o vento frio vinha forte. Não tínhamos nada alem da nossa roupa do corpo e um velho cobertor levado pelo Tiago para embrulhar o violão, não tinha como fugir do frio. Passamos muito frio, impossível eu descrever o sofrimento que foi passar aquela noite, para mim parecia eterna. Quando me falaram que na torre do shoping marcava 3horas da manhã eu achei que não aguentaria o frio e o som ensurdecedor da danceteria, confesso aqui que quase pedi "arrego" e só aguentei por não ter a quem pedir o tal "arrego". (haahhaha, cabreiro!)
Tive que aguentar, assim como meus amigos aguentaram e assim como todo morador de rua aguenta enquanto nós dormimos em nossas camas acolchoadas. ( a verdade incomoda, e somente quando vivemos na pele tais verdades é que podemos parar para refletir um pouco mais sobre a situação, ta certo que vivemos a situação em menor escala...mas mesmo sendo em uma escala pequena de 2 dias, percebemos coisas que não perceberíamos em uma vida inteira..)
8hrs da manhã de domingo
Acordamos e no relógio do shoping marcava 8 horas, repartimos umas bolachas de coco que compramos no supermercado no dia anterior. Depois, uns se deitaram no sol pra tentar se aquecer, pois ainda estava muito frio, outros continuaram no papelão. As 11hrs da manhã, começamos a nos alongar no alto do prédio e ensaiamos um inicio de treino, mas a noite mal dormida e a alimentação mal feita deixaram nossos corpos cansados e sem energia pra treinar.
Entretanto nossa ânsia em querer treinar fez com que saíssemos do prédio e treinássemos na praça dos biergarden, treinamos um pouco e nos deslocamos em direção ao parque Ramiro Rudger.
Treino no Biergarden, deveria ser meio dia...vida sem relógio é complicada..haha
O treino no bier acabou não rendendo muito e fomos novamente para a praça dos pombos,com a intenção de na praça treinamos um pouco mais pesado. Treinamos novamente muito pouco, a cabeça queria treino mas o corpo não oferecia a menor condição. Na praça, após decidirmos nosso rumo do dia, tivemos a inexplicável chance de ver nossos amigos Timóteo e Jean interagirem um pouco com as pombas.
(Jean, eu vou parar no "interagirem", fica tranquilo..ahhaahahah)
Meio dia, praça dos pombos, Timóteo e Jean respectivamente.
Terminamos nossa inexplicável experiência no parque Ramiro, onde dormimos um pouco antes de realizar o ultimo treino do final de semana. No local, um menininho de 7 anos que não conseguia ouvir nos viu fazendo uns movimentos e se aproximou tentando contato (não dando a mínima para nosso estado...estávamos fedidos, sujos e com roupas velhas..). Brinquei um pouco com ele, meio que em tom de desafio ele apontava algo e queria que eu realizasse, depois eu fazia o mesmo com ele. Quando o que ele pedia era humanamente impossível ou alem das minhas habilidades eu ria dizendo que não conseguia e pedia para ele fazer, ele também ria e fazia sinal de não com os dedos. Fato incrível que durou uns inesqueciveis 20min, eu pessoalmente não reparei, mas sinceramente me alegrei muito quando disseram que o brilho no olhar do avô do menino era intenso. Um fato a parte, que me alegrou muito naquele momento e que levarei comigo na memoria.
E para finalizar, quando íamos embora veio a grande surpresa, como tudo no Brasil, nosso final de semana iria acabar em pizza! Timóteo e Tiago fizeram o duvidoso convite para todos irem comer pizza na casa deles, onde seus pais estavam fazendo varias pizzas para nós, obvil que no momento ninguém acredito. Imagina um monte de caras sujos e fedorentos, serem convidados para comer pizzas após um final de semana morando na rua. Ta certo que sempre que tem reunião da associação na casa do timo tem varias coisas para comer, e que sempre somos muito bem tratados e etc etc. Mas pensamos que era sacanagem, eu mesmo jurava que era traquinagem dos dois (hahaha). Mas no fim os dois salafrários tavam falando a verdade, caminhamos até a casa do Tio Ademir e da Tia Iris (pais do Timóteo e do Tiago), e la estava aquela mesa CHEIA de pizzas. Cara, sinceramente? esse final de semana foi surreal desde o inicio até o fim, eu ainda não acredito em nada do que aconteceu...
Eu poderia ter feito um texto dizendo e enaltecendo todas as coisas que aprendemos nas ruas, poderia dizer que na segunda feira esqueci meu celular em casa por que nem lembrava que tinha um celular. Poderia dizer que reparei mais no amortecimento do meu ténis, que quando acordo não preciso procurar comida verdadeiramente ou que minha cama esta sempre protegida do vento frio. Poderia citar e refletir sobre vários aspectos vividos por nós nas ruas aqui de Blumenau, mas não sobrou espaço para tanto. Preferi enaltecer aqui a experiência por nós ali vivida, preferi relatar o que de fato aconteceu. Por que no final, são estas pequenas lembranças e experiências que transformam nossas vidas que realmente valem a pena ser revividas.
Assim, mais uma vez, a rua nos mostra
A frieza da sociedade,
O pouco caso dos governantes,
As drogas da vida
E a tristeza de um povo esquecido.
(Mariana Zayat Chammas)
Começamos a experiência as 8 horas da manhã no parque Ramiro Rudger, todos já devidamente caracterizados de moradores de rua. Já no local percebemos as constantes "olhadas" que as pessoas nos davam, como se nós não poderíamos estar naquele local daquela forma.
8hrs da manhã, parque Ramiro Rudger. Da esquerda para direita: Tiago, Timóteo, Jack, Jean e Leandro.
Saímos do parque Ramiro e caminhamos até a praça dos estudantes, lá nós deitamos no chão, tocamos violão e nos divertimos um pouco (cantando musica e treinando parkour). Logo após, deveria ser 11hrs, não sei precisamente porque ninguém tinha relógio, fomos até o mercado angeloni comprar algo para comer.
(algo = banana e tangerina..haha)
No mercado, foram varias as reações das pessoas ao nos ver: umas olhavam de canto de olho fingindo não nos ver, outras olhavam descaradamente para nós e teve até as que nem perceberam nossa presença. Entretanto, foram duas as reações sofridas e comentadas por nós que mais chamaram nossa atenção. A primeira situação ocorreu no mercado, uma moça foi pedir informação ao nosso amigo Tiago, olhando nos seus olhos, sem dar a mínima importância para suas roupas, após tantos pré conceitos foi fantástico e quase inacreditável. Também no mercado, ocorreu a segunda reação, totalmente oposta a primeira, uma senhora parou o carrinho quando nos viu e olhou indignada para nós, olhando desde nossos pés descalços até nossos cabelos revirados, o mais incrível foi ver que ela não teve medo de expressar o que ela pensava sobre a situação como a maioria das pessoas fazia. Ela parou o que fazia para nos olhar, foram duas situações igualmente incríveis.
sábado de manhã, acho que era 11hrs..
Enfim, chegando no angeloni, compramos bananas e tangerinas para comer no "almoço". Comemos no meio da rua, em um espaço pequeno de grama, aproveitamos e dormimos um pouco ali mesmo. Não deu muito tempo, tivemos que ir em um local mais reservado, pois muitos carros buzinavam ou berravam impossibilitando nosso sono no local. Nos dirigimos então para a Praça do Chinta, onde longe da visão das pessoas conseguimos descansar um pouco.
Praça do chinta. Na foto: Jack, Tiago e Jean.
Quando acordamos já era de tarde e seguimos andando até a rodoviária, lá tive que comprar um remédio para dor de cabeça (2reais), dor que provavelmente surgiu por treinar e caminhar pela manhã de barriga vazia (eu nunca tinha feito isso e meu organismo reagiu mal a situação). Saímos da rodoviária e andamos em direção a praça do Biergarden, todos com os olhos sempre atentos nos lixos, a procura de papelão para dormir em cima quando a noite chegasse. Encontramos muito papelão na rua 15 de Novembro, rua mais movimentada da cidade, pois passamos pelo local bem na hora em que as lojas estavam colocando os lixos e as caixas vazias na rua.
No momento em que estávamos procurando papelão para levar ao local onde iríamos dormir, uma lojista saiu de uma das lojas e me perguntou gentilmente com um olhar humilde e caridoso se eu queria mais papelão, eu surpreso/perplexo/assustado com a pergunta feita e pelo modo com que a lojista me olhou, prontamente agradeci a gentileza mas neguei, justificando já ter o suficiente para dormir.
(naquele momento, acho que todos nós nos sentimos moradores de rua de verdade...pois a situação nos forçou a entrar a fundo no "papel" de morador de rua e consequentemente ser tratado como tal)
Chegando na praça do biergarden, jogamos todo o papelão recolhido para dentro do edifício abandonado, que fica ao lado do Biergarden, edifício escolhido por nós para passar a noite. Após deixar o papelão no local onde iríamos dormir, decidimos ir ao mercado para comprar o que iríamos jantar. Compramos varias bananas, 98centavos o kilo na promoção, um miojo para cada um e dois pacotes de bolachas de coco. Comemos do lado de fora do supermecado, conversamos um pouco sobre como estávamos nos saindo e sobre os principais acontecimentos do dia.
Após comer e conversar um pouco nos dirigimos até a praça dos pombos, onde decidimos treinar um pouco, já estava escuro e o frio juntamente com o cansaço por caminhar o dia inteiro fez brotar em nós uma preguiça das brabas. Mas felizmente conseguimos supera-la após realizarmos uns alongamentos e aquecimentos caprichados (hahaha). Treinamos aproximadamente 1 hora no local, depois do show de gaita e violão proporcionado por nossos amigos Tiago e Timóteo decidimos ir arrumar o canto onde iríamos dormir no prédio.
Deveria ser 23hrs de sábado..
Subimos até o ultimo andar do prédio e apreciamos a vista única e deslumbrante da cidade, oferecida por aquele velho e sombrio edifício. Arrumamos os papelões no penúltimo andar e nos deitamos para dormir, o combinado era conversamos um pouco antes de dormir mas o cansaço fez com que todos ficassem em silencio e tentassem dormir.
Porem, não contávamos com a festa que estava acontecendo na choperia expresso, que fica exatamente ao lado do edifício. O barulho da festa atrapalhava muito o sono e quando estávamos quase dormindo, fomos surpreendidos por dois "moleques" que saíram da festa para subir o prédio. (não sei por que...acho que para ver a vista lá de cima, não sei...)
Quando eu os vi, me levantei e fiz com que me vissem, foi o suficiente para fazer com que eles se assustassem e fugissem correndo. Nos levantamos e pudemos observar os mesmos "moleques" contando o que viram aos amigos, dizendo pra eles não subirem que tinha mendigo no prédio e bla bla bla. Enfim, passados 15minutos aproximadamente, um grupo de 10 meninos subiu o prédio para fazer bagunça, foi quando meu instinto de morador de rua falou mais alto (hahahaha), sem pensar revirei o que tinha próximo e berrei para eles saírem, falei alguns palavrões com a voz grossa e exclamei que a festa era do lado e não ali no prédio. Por se tratar de "molecada" eles pediram desculpas e desceram com medo (falaram exatamente assim: "não cara, de boa, tamo saindo..de boa de boa"), as pessoas tem medo dos mendigos por estes serem imprevisiveis e não terem nada a perder, eu na hora sabia disto e usei instintivamente na situação para nos proteger de maiores complicações.
A noite foi muito fria e por estarmos no penúltimo andar, o vento frio vinha forte. Não tínhamos nada alem da nossa roupa do corpo e um velho cobertor levado pelo Tiago para embrulhar o violão, não tinha como fugir do frio. Passamos muito frio, impossível eu descrever o sofrimento que foi passar aquela noite, para mim parecia eterna. Quando me falaram que na torre do shoping marcava 3horas da manhã eu achei que não aguentaria o frio e o som ensurdecedor da danceteria, confesso aqui que quase pedi "arrego" e só aguentei por não ter a quem pedir o tal "arrego". (haahhaha, cabreiro!)
Tive que aguentar, assim como meus amigos aguentaram e assim como todo morador de rua aguenta enquanto nós dormimos em nossas camas acolchoadas. ( a verdade incomoda, e somente quando vivemos na pele tais verdades é que podemos parar para refletir um pouco mais sobre a situação, ta certo que vivemos a situação em menor escala...mas mesmo sendo em uma escala pequena de 2 dias, percebemos coisas que não perceberíamos em uma vida inteira..)
8hrs da manhã de domingo
Acordamos e no relógio do shoping marcava 8 horas, repartimos umas bolachas de coco que compramos no supermercado no dia anterior. Depois, uns se deitaram no sol pra tentar se aquecer, pois ainda estava muito frio, outros continuaram no papelão. As 11hrs da manhã, começamos a nos alongar no alto do prédio e ensaiamos um inicio de treino, mas a noite mal dormida e a alimentação mal feita deixaram nossos corpos cansados e sem energia pra treinar.
Entretanto nossa ânsia em querer treinar fez com que saíssemos do prédio e treinássemos na praça dos biergarden, treinamos um pouco e nos deslocamos em direção ao parque Ramiro Rudger.
Treino no Biergarden, deveria ser meio dia...vida sem relógio é complicada..haha
O treino no bier acabou não rendendo muito e fomos novamente para a praça dos pombos,com a intenção de na praça treinamos um pouco mais pesado. Treinamos novamente muito pouco, a cabeça queria treino mas o corpo não oferecia a menor condição. Na praça, após decidirmos nosso rumo do dia, tivemos a inexplicável chance de ver nossos amigos Timóteo e Jean interagirem um pouco com as pombas.
(Jean, eu vou parar no "interagirem", fica tranquilo..ahhaahahah)
Meio dia, praça dos pombos, Timóteo e Jean respectivamente.
Terminamos nossa inexplicável experiência no parque Ramiro, onde dormimos um pouco antes de realizar o ultimo treino do final de semana. No local, um menininho de 7 anos que não conseguia ouvir nos viu fazendo uns movimentos e se aproximou tentando contato (não dando a mínima para nosso estado...estávamos fedidos, sujos e com roupas velhas..). Brinquei um pouco com ele, meio que em tom de desafio ele apontava algo e queria que eu realizasse, depois eu fazia o mesmo com ele. Quando o que ele pedia era humanamente impossível ou alem das minhas habilidades eu ria dizendo que não conseguia e pedia para ele fazer, ele também ria e fazia sinal de não com os dedos. Fato incrível que durou uns inesqueciveis 20min, eu pessoalmente não reparei, mas sinceramente me alegrei muito quando disseram que o brilho no olhar do avô do menino era intenso. Um fato a parte, que me alegrou muito naquele momento e que levarei comigo na memoria.
E para finalizar, quando íamos embora veio a grande surpresa, como tudo no Brasil, nosso final de semana iria acabar em pizza! Timóteo e Tiago fizeram o duvidoso convite para todos irem comer pizza na casa deles, onde seus pais estavam fazendo varias pizzas para nós, obvil que no momento ninguém acredito. Imagina um monte de caras sujos e fedorentos, serem convidados para comer pizzas após um final de semana morando na rua. Ta certo que sempre que tem reunião da associação na casa do timo tem varias coisas para comer, e que sempre somos muito bem tratados e etc etc. Mas pensamos que era sacanagem, eu mesmo jurava que era traquinagem dos dois (hahaha). Mas no fim os dois salafrários tavam falando a verdade, caminhamos até a casa do Tio Ademir e da Tia Iris (pais do Timóteo e do Tiago), e la estava aquela mesa CHEIA de pizzas. Cara, sinceramente? esse final de semana foi surreal desde o inicio até o fim, eu ainda não acredito em nada do que aconteceu...
Eu poderia ter feito um texto dizendo e enaltecendo todas as coisas que aprendemos nas ruas, poderia dizer que na segunda feira esqueci meu celular em casa por que nem lembrava que tinha um celular. Poderia dizer que reparei mais no amortecimento do meu ténis, que quando acordo não preciso procurar comida verdadeiramente ou que minha cama esta sempre protegida do vento frio. Poderia citar e refletir sobre vários aspectos vividos por nós nas ruas aqui de Blumenau, mas não sobrou espaço para tanto. Preferi enaltecer aqui a experiência por nós ali vivida, preferi relatar o que de fato aconteceu. Por que no final, são estas pequenas lembranças e experiências que transformam nossas vidas que realmente valem a pena ser revividas.
A frieza da sociedade,
O pouco caso dos governantes,
As drogas da vida
E a tristeza de um povo esquecido.
(Mariana Zayat Chammas)
4 de junho de 2010
Sobre-vida na cidade.
Será realizado neste sábado e domingo, um treino onde nós iremos "morar" dois dias na cidade. O treino irá começar as 9hrs da manhã de sábado e terminara as 18hrs de domingo, sendo que para "sobreviver" neste período de tempo cada um de nós irá dispor somente de 10reais para se alimentar e a roupa do corpo para se aquecer (previsão de 7° graus na madrugada, eheheh).
Nós, tracers de Blumenau, treinamos diariamente para superar dificuldades relacionadas ao trabalho, ao estudo e a movimentação corporal. Mas o pensamento de superação, infiltrado em nossas mentes pelo parkour, vai alem de ter uma boa movimentação e ser um bom cidadão. Buscamos compreender como funciona o meio onde diariamente treinamos, entender como o homem se relaciona com o meio e vice-versa.
A verdade é que quando nos dispomos a fazer parkour, nós esperamos um clima favorável, nos vestimos de acordo, colocamos um ténis confortável e vamos para uma praça treinar. Não estamos lá 24horas e não entendemos como a cidade funciona. Infelizmente não temos tempo para buscar tal entendimento durante a rotina diária de trabalho, estudo e treino físico. E a verdade, é que para ser um tracer completo é de suma importância conhecer os espaços onde seu parkour irá intervir (seja o espaço urbano ou não). Assim como o velejador precisa ter um pleno conhecimento dos mares e do seu barco, o tracer precisa conhecer o seu corpo e os locais onde seu corpo estará em movimento.
Recentemente, realizei um trabalho sobre moradores de rua. E honestamente eu acreditava que conhecia as ruas por que me dedicava arduamente a treinar parkour nelas, bem, me surpreendi com os depoimentos colhidos dos moradores de rua entrevistados. Não conheço nada da cidade, não sei o que se passa quando me deito na minha cama quente, ou quando sento na mesa de jantar para comer.
Enfim, espero aprender o máximo possível com esta experiência, assim como já aprendi muito com as experiências passadas. Novamente um salve aos irmãos que iram me acompanhar nesta nova lição de vida.
Assim que possível, postarei o resultado dessa "sobre-vida na cidade".
-Leandro Ludwig
Nós, tracers de Blumenau, treinamos diariamente para superar dificuldades relacionadas ao trabalho, ao estudo e a movimentação corporal. Mas o pensamento de superação, infiltrado em nossas mentes pelo parkour, vai alem de ter uma boa movimentação e ser um bom cidadão. Buscamos compreender como funciona o meio onde diariamente treinamos, entender como o homem se relaciona com o meio e vice-versa.
A verdade é que quando nos dispomos a fazer parkour, nós esperamos um clima favorável, nos vestimos de acordo, colocamos um ténis confortável e vamos para uma praça treinar. Não estamos lá 24horas e não entendemos como a cidade funciona. Infelizmente não temos tempo para buscar tal entendimento durante a rotina diária de trabalho, estudo e treino físico. E a verdade, é que para ser um tracer completo é de suma importância conhecer os espaços onde seu parkour irá intervir (seja o espaço urbano ou não). Assim como o velejador precisa ter um pleno conhecimento dos mares e do seu barco, o tracer precisa conhecer o seu corpo e os locais onde seu corpo estará em movimento.
Recentemente, realizei um trabalho sobre moradores de rua. E honestamente eu acreditava que conhecia as ruas por que me dedicava arduamente a treinar parkour nelas, bem, me surpreendi com os depoimentos colhidos dos moradores de rua entrevistados. Não conheço nada da cidade, não sei o que se passa quando me deito na minha cama quente, ou quando sento na mesa de jantar para comer.
Enfim, espero aprender o máximo possível com esta experiência, assim como já aprendi muito com as experiências passadas. Novamente um salve aos irmãos que iram me acompanhar nesta nova lição de vida.
Assim que possível, postarei o resultado dessa "sobre-vida na cidade".
-Leandro Ludwig
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