20 de junho de 2011
Arquitetura em movimento.
Sabemos que toda arquitetura tem seu lado funcional e seu lado estético, nem somente bela nem somente funcional. Durante toda a evolução da arquitetura, o ser humano buscou o melhor jeito de conciliar a forma e função de determinada edificação. Ditados como "a forma segue a função" ganharam destaque e evidenciaram a importância e conflito entre estes dois pilares da arquitetura ao longo dos anos.
Do ponto de vista funcional a arquitetura é ditada, entre outros fatores, pela forma como nos movimentamos e nos deslocamos. Imagine por exemplo se o ser humano tivesse asas, de inicio já não existira mais escadas. Portas e janelas não teriam mais distinção, afinal qualquer pessoa poderia entrar voando pela janela. Os ambientes internos e externos seriam mais fluidos. E o telhado? será que a forma e função permaneceriam as mesmas?
Bom, o que eu quero dizer é que toda arquitetura que criamos esta intimamente ligada a forma como nos movimentamos. Ao terminar o projeto deste semestre na faculdade, percebi o quando influente é o veiculo na hora de projetar uma residência. Temos que projetar determinada edificação pensando na forma menos impactante com a qual o veiculo adentrara na residência, cuidar muito para não poluir a fachada principal com uma garagem. As vezes pensamos mais em como o veiculo entrara na residência do que como o ser humano entrara na residência, aconteceu comigo...
Neste contexto, talvez influenciado pelo parkour, penso constantemente como seria projetar uma residência onde as pessoas tivessem que escalar para entrar, tivessem que se abaixar para sair, rastejar para beber agua, se equilibrar para comer, e usar tantos outros movimentos que ao longo dos anos foram se perdendo. Experimente imaginar como seria...cansativo? divertido? útil? inútil? normal ao ser humano? Os anos se passaram, e nossa forma de se movimentar mudou, o ser humano contemporâneo não realiza mais os movimentos que basicamente estão em sua essência. O homem contemporâneo se queixa quando tem que caminhar, associa exercícios com cansaço. Se movimenta somente quando necessário, e para não ficar com o corpo feio tenta compensar puxando ferro durante horas em uma academia, o que nitidamente não compensa a falta do movimento natural que o corpo humano pode, pede e deve fazer.
Acredito que se o homem continuar negando movimentos básicos da sua essência como animal, futuramente teremos uma arquitetura voltada para o veiculo, para a moto, para o helicóptero e para o trem, mas nunca para o ser humano. Uma arquitetura feita para a maquina por um ser humano sedentário, tenho medo de pensar onde isso pode parar. E de uma forma ou de outra, de fato irá parar.
Nós, estudantes de arquitetura e urbanismo, não devemos e não podemos deixar que esta desevolução na movimentação do ser humano influencie nossa arquitetura. Temos que propor novas ideias, tanto arquitetônicas como urbanísticas. Ideias que tragam de volta a natural movimentação do ser humano. E o segredo para estas novas ideias surgirem esta basicamente no passado. Se quisermos devolver a movimentação natural do ser humano, temos que propor uma aquitetura semelhante a do passado, onde o homem precise subir uma árvore para pegar o alimento, precise escalar uma pedra pra entrar na caverna e obter abrigo, precise nadar para chegar.
Não é fácil fazer tal proposta, ninguém hoje em dia quer ter trabalho com nada. Em uma sociedade onde o simples ato de caminhar é constantemente associado a cansaço desnecessário, propor uma nova forma de se movimentar através de propostas arquitetonicas não é fácil. Alias, não me atrevo a dizer que é fácil, mas tenho certeza absoluta que é necessário.
Caso contrario, nossos filhos passaram 24hrs sentados em uma cadeira de rodas, que se juntara ao automóvel, para que não precisem andar até o carro. Onde o automóvel se juntara com a casa, para que não precisem andar até a casa. Onde a casa se juntara ao trabalho, para que não precisem ir correndo ao trabalho. O trabalho se juntara ao mercado, para que ninguém perca tempo indo ao mercado. E por fim, teremos filhos que viveram sentados, independente de onde estão ou para onde vão. Mas particularmente, prefiro imaginar o ser humano com asas...eheh
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